O mais polêmico e, possivelmente o maior enxadrista de todos os tempos, Robert James ("Bobby") Fischer, dominou seus contemporâneos e estabeleceu-se como lenda viva antes mesmo de abandonar os torneios e matches após conquistar o título mundial contra Spásski. Antes disso, alcançara o rating mais alto, 2 870, da FIDE-Elo, baseado em seus resultados totais; venceu sucessivas eliminatórias de candidatos contra grandes-mestres de categoria internacional como Taimanov e Larsen por 6 a 0 e, por causa de um terrível descuido e uma penalidade, deu a Spásski duas partidas de vantagem na série pelo título mundial antes de derrotá-lo com alguma facilidade.
Fischer aprendeu a movimentação das peças aos seis anos de idade, mas sua primeira grande oportunidade como jovem enxadrista veio quando sua mãe decidiu instalar-se no Brooklyn. A popularidade do xadrez em Nova York, com os grandes clubes Manhattam e Marshall e uma infinidade de bares dedicados ao jogo, tem se mostrado um ambiente estimulante para vários grandes-mestres norte-americanos em potencial, e Fischer modelou seu jogo com incessantes partidas relâmpago aliadas ao estudo da literatura referente ao xadrez soviético. O resultado desse treinamento intensivo e do total abandono dos estudos escolares para dedicar-se ao xadrez foi uma conquista única em torneios: Fischer tornou-se campeão masculino dos Estados Unidos aos catorze anos de idade.
Provavelmente, naquela época Fischer não sabia quão íngremes eram os degraus restantes para o título mundial, detido então pelo envelhecido Botvinnik, quando se qualificou para o Torneio de Candidatos na primeira tentativa e se tornou, aos quinze anos, o grande-mestre mais jovem de todos os tempos. A sólida falange dos soviéticos superou facilmente seu rival menos experiente em 1959 e 1962 e Fischer requisitou então, com sucesso, que o sistema fosse modificado, passando de um torneio para uma série de eliminatórias entre os oito desafiantes finais. Foi com esse novo sistema que, em 1971, ele passou por todos os seus rivais e derrotou Spásski no ano seguinte.
O grande público há de lembrar-se de Bobby mais por suas excentricidades e rixas do que por seu estilo excepcional. Sua partida contra Reshevsky, em 1961, terminou com um escândalo e um processo judicial, e ele abandonou o Interzonal de 1967 quando estava à frente de todos por causa de uma disputa relativa à tabela do torneio. Só voou para a Islândia, onde deveria enfrentar Spásski, depois que o patrocinador britânico dobrou seu cachê de 50000 libras, e não abandonou o match contra Spásski por interferência pessoal do secretário das Relações Exteriores norte-americano Henry Kissinger. Finalmente, Fischer abdicou do título mundial sem qualquer briga quando a FIDE recusou sua proposta de declarar vencedor o primeiro que ganhasse dez partidas, sendo que o empate de 9 a 9 manteria o título nas mãos do campeão.
As exigências financeiras de Fischer eram incríveis. Tanto o match projetado contra Karpov quanto a partida de retorno contra Gligoric em 1979 - que também não deu em nada - sairiam por um milhão de dólares ou mais. Apesar das afirmações de que as cotas de Fischer beneficiavam também os mestres comuns, havia um enorme contraste entre essas somas e aquelas em jogo nos torneios internacionais costumeiros. Depois, havia ainda suas implicâncias relacionadas à luz, ao barulho dos espectadores e outros detalhes associados ao jogo evidente que Fischer, a essa altura, chegara a um estado onde o medo da derrota e de jogar em público dominavam seu pensamento. O que poderia realçar mais sua reputação lendária do que uma vitória contra Karpov? Talvez circunstâncias financeiras desfavoráveis forcem-no a jogar novamente, mas o mais provável é que Fischer permaneça, junto com Morphy, como o único grande-mestre a abandonar completamente o xadrez no auge da fama. O que pode o enxadrista comum aprender com Bobby Fischer? Primeiramente, a vontade de vencer. O instinto lutador de Fischer fazia-o continuar em busca de oportunidades de vitória mesmo em posições onde a maioria dos mestres teria se contentado com o empate. Sua resposta às ofertas de empate prematuro era "claro que não". Era fisicamente difícil jogar contra ele; seus olhos fundos e hipnóticos e seus traços aquilinos fixavam-se apaixonadamente no tabuleiro, de onde raramente se levantavam para observar outras partidas. Fischer tem braços e dedos longos que usava para tomar as peças adversárias, quando as capturava, como uma ave de rapina. A vontade de vencer permitiu-Ihe chegar à frente de seus adversários por margens recordes e esperava-se sempre uma marca de 100 por cento. Apenas Alekhine tinha semelhante fanatismo mas, ao contrário dele, Fischer sempre se mantinha em boa saúde quando enxadrista ativo.
Tecnicamente, Fischer conhecia em profundidade as linhas de abertura agudas que analisava incessantemente antes dos torneios; nas posições simples, sua estratégia era tão pura e límpida, para chegar a seu objetivo, quanto a de Capablanca. Empregava seu conhecimento das aberturas especialmente bem com as brancas, quando ganhava tipicamente a iniciativa e o controle espacial para então comprimir o adversário cada vez mais na defesa até que sua resistência ruísse. Entre 1966 e 1970, encontrava-se praticamente aposentado, mas quando apareceu no "Match do Século", em que o time soviético venceu por pouco um selecionado do resto do mundo, jogou imediatamente uma partida digna de seu estilo contra Petrossian.
Parte da razão do imenso interesse do público por Fischer era sua capacidade de produzir suas melhores e mais espetaculares partidas nas ocasiões mais importantes. Isso ocorreu quando se encontrou mais uma vez frente a Petrossian, no ano seguinte, em Buenos Aires, para a eliminatória final na série pelo título de campeão mundial, de onde sairia o desafiante de Boris Spásski. Quando Fischer começou ganhando, a publicidade mundial cresceu, e multidões tomaram o salão para dar uma espiada nos grandes-mestres. Fischer respondeu com uma das melhores partidas de sua vida, cujos estágios finais ilustram o poder de seu final favorito: torre(s) e bispo superando torre(s) e cavalo no tabuleiro aberto.
O grande público há de lembrar-se de Bobby mais por suas excentricidades e rixas do que por seu estilo excepcional. Sua partida contra Reshevsky, em 1961, terminou com um escândalo e um processo judicial, e ele abandonou o Interzonal de 1967 quando estava à frente de todos por causa de uma disputa relativa à tabela do torneio. Só voou para a Islândia, onde deveria enfrentar Spásski, depois que o patrocinador britânico dobrou seu cachê de 50000 libras, e não abandonou o match contra Spásski por interferência pessoal do secretário das Relações Exteriores norte-americano Henry Kissinger. Finalmente, Fischer abdicou do título mundial sem qualquer briga quando a FIDE recusou sua proposta de declarar vencedor o primeiro que ganhasse dez partidas, sendo que o empate de 9 a 9 manteria o título nas mãos do campeão.
As exigências financeiras de Fischer eram incríveis. Tanto o match projetado contra Karpov quanto a partida de retorno contra Gligoric em 1979 - que também não deu em nada - sairiam por um milhão de dólares ou mais. Apesar das afirmações de que as cotas de Fischer beneficiavam também os mestres comuns, havia um enorme contraste entre essas somas e aquelas em jogo nos torneios internacionais costumeiros. Depois, havia ainda suas implicâncias relacionadas à luz, ao barulho dos espectadores e outros detalhes associados ao jogo evidente que Fischer, a essa altura, chegara a um estado onde o medo da derrota e de jogar em público dominavam seu pensamento. O que poderia realçar mais sua reputação lendária do que uma vitória contra Karpov? Talvez circunstâncias financeiras desfavoráveis forcem-no a jogar novamente, mas o mais provável é que Fischer permaneça, junto com Morphy, como o único grande-mestre a abandonar completamente o xadrez no auge da fama. O que pode o enxadrista comum aprender com Bobby Fischer? Primeiramente, a vontade de vencer. O instinto lutador de Fischer fazia-o continuar em busca de oportunidades de vitória mesmo em posições onde a maioria dos mestres teria se contentado com o empate. Sua resposta às ofertas de empate prematuro era "claro que não". Era fisicamente difícil jogar contra ele; seus olhos fundos e hipnóticos e seus traços aquilinos fixavam-se apaixonadamente no tabuleiro, de onde raramente se levantavam para observar outras partidas. Fischer tem braços e dedos longos que usava para tomar as peças adversárias, quando as capturava, como uma ave de rapina. A vontade de vencer permitiu-Ihe chegar à frente de seus adversários por margens recordes e esperava-se sempre uma marca de 100 por cento. Apenas Alekhine tinha semelhante fanatismo mas, ao contrário dele, Fischer sempre se mantinha em boa saúde quando enxadrista ativo.
Tecnicamente, Fischer conhecia em profundidade as linhas de abertura agudas que analisava incessantemente antes dos torneios; nas posições simples, sua estratégia era tão pura e límpida, para chegar a seu objetivo, quanto a de Capablanca. Empregava seu conhecimento das aberturas especialmente bem com as brancas, quando ganhava tipicamente a iniciativa e o controle espacial para então comprimir o adversário cada vez mais na defesa até que sua resistência ruísse. Entre 1966 e 1970, encontrava-se praticamente aposentado, mas quando apareceu no "Match do Século", em que o time soviético venceu por pouco um selecionado do resto do mundo, jogou imediatamente uma partida digna de seu estilo contra Petrossian.
Parte da razão do imenso interesse do público por Fischer era sua capacidade de produzir suas melhores e mais espetaculares partidas nas ocasiões mais importantes. Isso ocorreu quando se encontrou mais uma vez frente a Petrossian, no ano seguinte, em Buenos Aires, para a eliminatória final na série pelo título de campeão mundial, de onde sairia o desafiante de Boris Spásski. Quando Fischer começou ganhando, a publicidade mundial cresceu, e multidões tomaram o salão para dar uma espiada nos grandes-mestres. Fischer respondeu com uma das melhores partidas de sua vida, cujos estágios finais ilustram o poder de seu final favorito: torre(s) e bispo superando torre(s) e cavalo no tabuleiro aberto.
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